Janela aberta
Quando ela saia era o sinal, festa
de alegria, saia, vento e sol.
Andava na rua com seus iguais,
linda, bela como a estação da primavera em dias ancestrais.
Dançava o caminho num balanço
azul, pássaros no ninho entoavam blues.
Seu salto plataforma a enganar,
doutores, senhoras, invejosas más.
Homens de gravata, de shorts,
nus, viam maravilhas na luz do seu riscar, enquanto que o tempo deixava
passar.
Virou uma esquina e o meu olhar,
entrou na condução que nem vi chegar.
Era todo dia, mesmo frisson, ela,
linda, imediata.
Passaram semanas, dias mais, nunca
mais se viu a deusa passar.
Todos que sonhavam, sem conformar,
indagavam serenatas.
Uma lenda viva tomou lugar, contando
histórias sobre o que esperar, da deusa senhora, do seu caminhar.
Disseram que ela se apaixonou
por algum pirata que zarpou, ou então que ela caiu no mar, porque
tinha sonhos e tudo se acabou.
Pode ser que ela fosse de lá,
onde a fantasia cria o que sonhar.
Mas meu sentimento não
quis assim, abri a janela, esperei o fim.
Anos se passando e eu ali, lembrando
da deusa que um dia eu vi.
Hoje sou um homem com seus sinais,
prata nos cabelos, sonhos imortais.
Todos já se foram, coisas
naturais, eu aqui sozinho a lembrar.
Filhos dos meus filhos, vem sempre
ter, com o vô que espera, sem ter mesmo quê.
Eu conto a história, como
ela se deu, recebo seus beijos de carinho ateu, pensam que uma lenda pode
me assustar.
Nunca digo nada a mais ninguém
pois será mentira ser for mais além, ontem eu a vi perto
de uma catedral, dobrando a esquina, saia, vento e sol.