Encontro pedaços de mim pela casa
Encontro pedaços de mim espalhados. Há braços de mim sobre a cama, pernas minhas atrás da porta, minha pele descansa no armário e minha cabeça dorme, sobre um travesseiro antigo. Minha alma deve estar em algum lugar escondido ou vagueando vagabundamente pelos quartos esquecidos, onde deixei juventudes velhas, de uso. Minha alma ainda é criança, jovem demais para a quietude adulta do meu descontentamento. Muitas vezes a surpreendo trepada no telhado, chupando o dedo e fazendo caretas para os passantes. Outras vezes a descubro olhando pelo buraco de fechadura das casas vizinhas, perscrutando intimidades, rindo-se à toa. Muitas das vezes a encontro compenetrada, lendo meus livros fora de moda, lendo coisas antigas que construíram muitas das partes de mim e destruíram outras, trancada na biblioteca que nem mais visito. Minha alma gosta de reconstruir alegorias. E eu a repreendo e ela some. Vito Cesar |