Águas





      Brinco nas piscinas que sonho, pois ali, pelo domínio do espaço, pela certeza do profundo, torno-me um ser abissal ou um náufrago de brincadeira, um super herói bandido para o fascínio das crianças,

      um barquinho em que elas passeiam,

      torno-me uma história ilustrada,

      uma brincadeira de água,

      um corpo que ginga e retorce músculos e dá saltos sobre o sonho e se estilhaça sobre a superfície da água e se recompõe no seu subterrâneo...

      tenho fascínio pelo mar,

      eu , um ser sem histórias de mar, sem aventuras de mar,

      mas sinto o seu cheiro e fecho os meus olhos e ouço a sua canção e deixo que o seu vento,

      um vento que vem de longe, de todas as áfricas, de todas as ilhas de todos os mistérios, me erice a pele e misture meus cabelos, e faça um afago materno na minha criança.

      fico parado na sua beira, esperando o que resta de ondas poderosas que vem morrendo, morrendo , rodeando , rodeando, escavando a areia ao redor, enterrando meus pés,

      me brincando de mar.

      e se não tenho aventuras vividas, restam-me o olhar e o sonho, a dança do coqueiral, o corpo molhado ,a areia e o sal.

      o corpo e a água se completam no mais sensual de todos os rituais.

      a água do chuveiro envolvendo o corpo que em princípio se recusa mas ao fim se entrega completamente farto,

      um chuveiro, manufatura humana, água tornada útil, desviada do seu leito, conduzida por diretrizes de ferro, aprisionada em compartimentos, liberada pelo gesto do homem...

      água de chuva artificial que esfria a cabeça, nos obriga a fechar os olhos e embriaga de prazer o corpo...

      e o corpo não quer ser limpo,

      o corpo não conhece não ser limpo,

      o corpo é apenas, o corpo e a água, nervos expostos e choque,








Vito Cesar

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