Panorama visto da ponte Eu juro, estou embaixo da ponte,
De todos, que passam fazendo ruídos,
Eu juro que tudo é mais que
pensava...
Vito Cesar
Estou embaixo da ponte e juro,
Lixo é o meu preço,
E danço, toda tarde de Domingo,
Entre papéis velhos, traças,
entre pedaços de fita,
Entre notícias veladas, no
rasgo mais escandaloso
Da folha da revista,
Entre latas febris de cerveja, entre
mulheres e tetas,
De vime, de loucas categorias, de
dias,
Onde a sede me assoma e eu choro
baixinho...
E gozo quando ninguém olha
o pano,
Que ergo, a separar armadilhas,
Do tempo, que me roubou cada trilha,
De estrada, que ficou longe e velada,
No sonho de que um dia fui artista,
E lembro que tocava um instrumento,
De cordas, alguma coisa iluminada,
E hoje, lembro que não há
mais memória,
Pois traço, longe da vista
de todos,
Um plano, para acabar a folia,
Na noite, que me roubou fantasia,
Que já virou a verdade,
E mergulho, com cabeça, tronco,
energia
Que ergue uma bandeira encantada,
No lixo, que reviro noite e dia,
De onde retiro tanta magia,
Eu juro, vivo embaixo da ponte,
E vejo, saltarem muitos perdidos,
No rio, que passa bem ao meu lado,
Meu lado, lado obscuro, sagrado,
De onde retiro toda alegria,
E olho o céu de noite estrelada,
E sonho o meu sonhar de mirada,
De tudo que acontece de dia,
Na noite a vida está muito
cansada,