Eu, a mentira
Acredito em mim, assim como em tantas outras mentiras, a medida em que consigo me reduzir à mínima expressão do homem, ou seja, sua/ minha própria existência. É esse poderoso pilar que sustenta toda uma história. Ser um fabuloso complexo biológico autônomo é glorioso, mas não explica. Ser um querer contínuo, explica, mas não glorifica. A vida, essa coisa borbulhante, rica em temperaturas, cansaço, prazer e agonia, pede mais e mais aquilo que é tão pouco a se lhe dar, ou seja, permitir a sua própria essência. Esse pouco é tanto que, em nossa pequenez, dizemos INFINITO ao olharmos a todos os céus de estrelas, nas noites do mundo. Noites limpas... Eu sou uma mentira e talvez não creia nisso. Talvez seja uma verdade desviada,
de um rumo não traçado, no tempo não vivido, no sonho
não sonhado...
Talvez tudo seja verdadeiro, afinal, no meio dessa noite sufocada entre quatro paredes. Salve a insanidade geral, que gera o movimento e absurdo ! Salve a inegociável liberdade do nada absoluto, que transita entre cabeças que se cruzam ! Salve o egocentrismo que salva e me faz observador, entre aqueles a quem respeito mas renego! Salve o momento maior de se proferir heresias ao vento, na certeza de que o vento não trará o eco do castigo! Salve a todos os discursos que esclarecem aos povos, que denunciam as limitações humanas ! Salve-me a compulsão de imprimir palavras nas pontas dos dedos, sem cessar...sem cessar... Eu sou uma mentira. Você acredita ? Você acredita ?
Vito Cesar |