Elogio ao papel branco tenso obscuro puntiforme conclusivo ponto invoco a sabedoria, deusa escrevente e desafio para a invernada rumo ao labirinto de minhas idéias. ainda não definidas. Como dizer ao papel branco o que receber de imagens pictóricas, garranchos neuróticos que o arranham e dilaceram de forma irônica? Tantas vezes falando muito, tantas vezes dizendo nada. A arte desta relação consiste na luta entre resistências. De um lado o papel indefeso e imaculado, submisso à tirania do vate que o açoita com tintas e rabiscos. De outro, o próprio tolo, que expõe a esmo o ridículo da palavra mal dita, na punição do tempo que torna suas idéias, motivo de esquecimento. Apenas o papel sobrevive, branco e imaculado. Portanto, amigo, tantas quantas forem as palavras, inauditas por sua própria natureza apenas estética, mais difícil chegar-se ao algo de dado assunto. Especialmente quando referendam crendices, sonhos e poesia. Parágrafo, ponto morto na descida da ladeira, sem freios. A grande viagem só se inicia, quando se consente vertigens, soslaio de olhares lascivos, imagens impossíveis, ruídos estrepitosos, amores tensos, improváveis, medo e alegria, romances insustentáveis. Então, amigo, que fazer se não consigo sair do parágrafo, tenso obscuro puntiforme conclusivo? ponto.
Vito Cesar |