½ CAMINHO (n.º 2)

              de Lysias Ênio



          eu não te peço nada.
          fica aí, a meu lado, com ar de quem é feliz
          mas não está assustada.
          fica de pé, de cócoras, de quatro,
          sentada.
          só te peço um favor:
          quando eu estiver escrevendo,
          planta bananeira, mas fica calada.
          quando eu pegar no copo
          e encher meu olhar de infinito,
          vai dormir.
          deixa eu sonhar, como um sábio.
          livre e vazio como um verso
          ou um grito.
          se quiseres ficar acordada, é tua a vontade.
          só não me ofereças aquelas receitas,
          aqueles quitutes.
          apenas adormece silêncios e quietudes.
          dá um cheiro no cangote, vez em quando,
          me dá prazer,
          me faz sentir que você gosta de me fazer feliz,
          de me ver fazendo o que eu gosto.
          me beija, mas não muito, senão...
          eu começo a entender as coisas
          que você esconde nos olhos,
          um baile sem fantasias
          nossas pernas entrelaçadas.
          faz teia, sê penélope!
          vê tv, menstrua!
          podes até morrer;
          mas, por favor, quando eu estiver escrevendo
          morre calada.




Lysias Ênio

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