Sentada em frente ao espelho, olhou para sua imagem patética, cabelos em desalinho , totalmente nua , sempre adorou o contato de sua pele com o ar, dormir nua a fazia acordar leve, livre, como se estivesse acabando de nascer ...sentiu um pouco de vergonha do espelho que a encarava como um menino bobo...

Tinha voado tanto durante a noite , quantas janelas abertas dentro de seus sonhos malucos, quantos planetas percorridos, amores cavalgados em estrelas desconhecidas...

A noite tinha sido maravilhosa realmente... ultrapassara os limites permitidos pela realidade, se é que existem limites a se permitir ultrapassagens.... Foi além, quis mais do que tinha no momento, o pouco, o necessário nunca a satisfez totalmente... Seu quarto estava coberto de pétalas coloridas, havia flores em todos os cantos, a cama era um pequeno mar de rosas vermelhas, o chão tinha se tornado um tapete de flores...

Tinha preparado tudo com todo cuidado, de forma não ter esquecido nenhum cantinho sem flores, ao lado da cama tinha reservado para os buquês mais lindos, velas coloridas nos quatros cantos, incensos perfumados, o seu preferido, de verbena, exalava perfumando o ar e se misturando ao cheiro das flores...não se via nada além das flores, sua pele...e as borboletas...cinco, seis, não se sabia ao certo mas misteriosamente estavam ali, em seu quarto no meio de tantas flores...como teriam entrado?

Tinha feito tudo certinho, fechara a janela, a porta...Também não importa, pois elas completavam aquele quadro que parecia fazer parte de um ritual quando se olhava a primeira vez... mas não era... havia também a música suave que ia se repetindo, repetindo infinitamente..

Tomou seu banho cuidadosamente com óleos perfumados, bebeu um pouco de vinho, enfeitou seus cabelos com flores, que agora estavam amassadas sobre a cama... não tinha faltado nada naquela noite... Quantas mãos tocaram seus sonhos.... e quantos sonhos a serem tocados ...

É... ainda há fogos diabólicos acesos ... e sua pele se queima sozinha...